Resenha: Lords of the Expanse

Star Wars sempre foi um campo inventivo de criações. Repleto de autores talentosos e inspirados que contribuíram demais para o universo expandido. Os RPGs eram o principal ponto de partida para criadores de conteúdo, pelo menos na época da West End Games. Prova disso, é que foi por ele que os autores conheceram os nomes do Imperador, das naves, de Coruscant e inúmeras outras informações. O post de hoje, é uma resenha de um material ao qual tenho muito carinho, que também era da West End Games.

Lords of the Expanse é uma caixa que descreve um setor inteiramente novo para o universo de Star Wars , o setor Tapani: centro de operações e disputas políticas entre um grande variedade de casas nobres e afiliados (leais ou não). Tal caixa, fornece aos jogadores e Mestres, um cenário mais "civilizado" para suas aventuras de Star Wars. Em vez de assumir o papel de contrabandistas e batedores, os jogadores agora podem assumir a personalidade de cavaleiros e nobres, esgrimistas e conspiradores. Pense em uma fusão entre Star Wars com Game of Thrones! A saber, a campanha ocorre 3 ABY, ou seja, o Império sofreu um duro golpe recentemente, o que fomentou vários movimentos rebeldes ao redor. A destruição da Estrela da Morte, é a ignição que faltava para o levante e em muitos pontos do setor, é justamente o que está acontecendo. Algumas Casas estão alerta, algumas tentam refrear tal atitude outras (secretamente) até a fomentam.  

Falando nelas, são exatamente 7 Casas Nobres (algumas com mais influência que outras, mas cada uma com um papel distinto na trama), e pelo menos abertamente apoiam o Império. Na verdade, os nobres de Tapani não gostam da intromissão imperial em seus negócios (que é mínimo no início da linha temporal da caixa), vendo o Imperador como uma ferramenta forte e eficiente para a manutenção de suas posições sociais e privilégios elitistas. Vale um post só pra falar de cada uma das Casas de Tapani (sugestão anotada!). No mais, essa mentalidade tende a fazer do Setor Tapani um lugar repleto de tons de cinza. O que pode assustar quem vem da mentalidade praticamente maniqueísta do cenário padrão de Star Wars. Mas te garanto: esse material aqui garante novos ares para a franquia.

O conteúdo da caixa, é bem rico. A saber: 16 cartas de consulta (ilustrando personagens, naves e outros elementos do cenário), um mapa de salto do Setor Tapani (o grupo pode e deve explorar outros planetas do quadrante), uma coleção de templates de personagens e três livros (o Guia do Setor, o Guia do Mestre e o Guia de Campanha).

Guia do setor: este é o mais fino dos três livros, com 48 páginas. O objetivo principal do Guia do Setor é dar aos jogadores e DMs, uma visão geral de cada aspecto do cenário. Ou seja, visão sobre as Casas, rumores sobre diversos tópicos (o que é um baita fomentador de aventuras), a história do setor (incluindo um calendário e feriados), espécies nativas, e os mundos que compõe esse recorte da galáxia. Também existem capítulos curtos que descrevem veículos, droids e equipamentos específicos. Na verdade, é recomendado que todos do grupo, leiam o Guia do Setor de ponta a ponta. O que é familiar na aparência, geralmente é bem diferente na prática, como iremos notar adiante.

Guia do Mestre de Jogo: Este livro tem 80 páginas e contém a maior parte das informações do conjunto. Ele fornece informações mais detalhadas sobre todos os tópicos incluídos no Guia do Setor. Em muitos casos, isso significa esclarecimento e algumas revelações, pois muita coisa está acontecendo em Tapani, principalmente nos bastidores. Percebe-se rapidamente, que intriga politica é o foco das campanhas por aqui. Há material para anos de histórias, pois espalhadas ao longo do livro, estão inúmeras sementes de aventura para dar ainda mais ideias ao DM. O livro apresenta também os títulos e hierarquia das Casas e forma de se dirigir a cada uma delas. É muita informação, na verdade, mas vou esclarecer algumas dúvidas logo de cara:

Como ousa difamar
a Casa Mecetti?

Há a presença de Jedi em Tapani? Não. Mas existem os Saber Rake, algo próximo de um cavaleiro de alta nobreza em nossa Era Medieval clássica ou mesmo um samurai feudal. Ou seja, são nobres que duelam por honra, glória e até amor romântico, como nos contos de Cavalaria. Eles utilizam Lightfoils, que são Lightsabers mais fracas. Em termos de regra (sistema D6), sempre que o Wild Die cair 1, ela dá defeito e o personagem deve dedicar as próximas horas para consertar a arma. Ela também causa menos dano que a “arma jedi oficial”. A Lightfoil surgiu há vários anos atrás, quando alguns fanfarrões da elite encontraram um lote de Lightsabers verdadeiros. Rapidamente, começaram a usar como modalidade esportiva, até que chamaram atenção do Império e um destacamento veio e levou os “brinquedos” dos mancebos mimados. Descontentes, criaram réplicas artificiais, menos eficientes. Lembro que joguei usando o SAGA e usava a Lightsaber Arcaica apresentada no suplemento Jedi Academy Training Manual e funcionava muito bem. (sim, aquele Lightsabers com fio! Eu me amarro neles, juro!). No caso de falha crítica, a arma também dava curto-circuito. Por fim, caiu no gosto da corte de Tapani e hoje, alguns nobres patrulham as ruas e protegem seus superiores como um Saber Rake, o que pode vir a ser um grande prestígio para sua Casa. Atente que quase nunca esses duelos são até a morte. Como uma justa medieval, o primeiro ou segundo ferimento, já é sinal claro de derrota e humilhação suficiente. Outro fator libertador, é que eles não estão ligados ao Jedi, às amarras do Conselho e nem a dualidade Lado Escuro/Lado Luminoso da Força. Dark Points ainda são computados, mas seu uso é bem próximo à ao sistema de moralidade “Renegade/Paragon” mostrado na franquia Mass Effect por exemplo. E isso é muito bom, pois permite explorar justamente os tons de cinza que citei previamente.

Stormtroopers em Tapani? Na verdade, são chamados de Guard Trooper. Usam armaduras azuis e cada um deles, porta o emblema de sua respectiva Casa, ou seja, eles funcionam como uma guarda particular. Quanto mais poder e riqueza, maior a quantidade e melhor a qualidade de seu treinamento. Se encontrar um destacamento de “stormtrooper branquinhos” clássicos por aí, já sabe que é sinal de presença imperial. Alguém fez merda...   

Cada casa é detalhada a exaustão, juntamente com seus respectivos “podres”. Informações essas que valem fortunas. Regentes, objetivos, planetas que atuam dentro do sistema, tudo é muito detalhado. Há informações sobre o sistema de julgamento, mídia e informação. Tudo é estruturado e burocrático. Se um crime é exposto, provas são levadas frente a um júri e o julgamento acontece, seguido de sentença clara. Algumas casas possuem segredos bem relevantes, como existência de Sensitivos à Força entre os seus, práticas de lobotomia ou mesmo como financiadores secretos de células rebeldes! Existem também descrições de outras forças atuantes no setor: os Freeworlds (suspeitos de simpatias rebeldes – ou seja, os plebeus!), A Guilda de Mineração ("Você se junta à Guilda e ninguém se machuca, ok?"), Megacorps (corporações particulares que dominam determinado serviço ou produto), Piratas, Independentes e até um punhado de Sociedades Secretas (nenhuma intriga política poderia ficar sem elas, certo?) E, é claro, o próprio Império. Apesar de inúmeras tretas entre as casas, existe um senso comum entre todas: quanto menos atenção do Império, a gente tiver, melhor. Logo, inúmeros pactos e tréguas geralmente acontecem por essa máxima. O livro fecha com uma Ficha de Personagem customizada para o cenário.

Muita coisa a ser explorada em Tapani!

Guia de Campanha: Este livro de 72 páginas coloca a teoria, em prática. Inclui muitos conselhos para mestres e jogadores sobre como jogar neste novo setor, principalmente em estabelecer o tom e o foco da campanha. Vocês irão jogar com uma célula recém-formada de insurgentes? Todos serão nobres de uma Casa? É possível jogar até com imperiais se aliando com algumas Casas, caçando pretensos rebeldes e sendo promovido, pouco a pouco chamando atenção até do próprio Imperador! Há mapas e descrições de várias cidades do setor para ser o ponto de partida da campanha, bem como a ficha de inúmeros personagens para servir de NPCs. Se você ainda assim, precisar de um empurrão, na página 48 temos uma aventura pronta. Basta ler, e chamar seu grupo pra jogar. O livro fecha com uma lista de inúmeras ideias de aventuras que certamente irão fomentar toda uma campanha em Tapani.

Conclusão  

Lords of the Expanse é realmente um cenário maravilhoso e um dos melhores suplementos de Star Wars lançados na Era D6(olha que não eram poucos). É um produto raro hoje em dia, mas encontra-se PDF decente por aí. Como citei, é recomendado para quem ama Star Wars, mas anda saturado dos mesmos tropos: a mentalidade quase medieval do cenário é bem bacana, criando oportunidades únicas de combate, exploração e interação social. Por fim, o material é tão rico e descritivo que é possível com mínimo esforço adaptar para D20, SAGA ou mesmo o sistema da FFG. Na verdade, pensando aqui em termos de regra, o Saber Rake funcionaria melhor até mesmo como um Noble que no 2o nível teria pego Weapon Proficiency (Lightfoil). Os efeitos morais e talents voltados à rendição do adversário, por exemplo, caberiam muito bem nesse papel. Claro que se for focar somente no MIN/MAX, a melhor pedida seria a classe de Jedi, mas na minha mesa eu permitiria apenas o primeiro modo mesmo, exatamente pelo flavor e apelo do cenário. Quem sabe mais pra frente ele até pegasse Sensitivo à Força? Mas aí é outra história...Uma boa pedida também seria a Classe de Prestígio Melee Duelist encontrada no livro do KOTOR. Principalmente para os esgrimistas de maior renome e habilidade.    

Em breve, um post sobre cada uma das Casas Nobres de Tapani. No mais, abraço a todos e bons jogos!

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