Resenha: Star Wars Saga Edition

Sim, é um livro quadrado

Lançado em maio de 2007 pela ainda detentora dos direitos Wizards of the Coast, Star Wars Saga fez muito sucesso, criando um sistema D20 mais enxuto, ajustando várias regras e apresentando inovações bem-vindas. Além disso, foi a “plataforma de testes”, por assim dizer, de muitos elementos que seriam incorporados a 4ª edição de Dungeons & Dragons.

É possível observar assim, que as várias críticas ao sistema D20 foram ouvidas e medidas foram tomadas para atendê-las. Por exemplo:

1 – Personagens de 1º nível já são heroicos

Não mais o seu personagem de nível 1 receberá um tiro de blaster e tombará (como ocorria nos primeiros níveis do Star Wars D20). Cada personagem iniciará o jogo com algo entre 18 a 30 pontos de vida, dependendo da classe e ajustados pelo modificador de Constituição. E retiram a divisão entre Vitality e Wound Points, que provavelmente deixava muitos jogadores confusos. Outra mudança: não existe mais a Categoria de Armadura. Todos os ataques são contra o Reflexo do alvo. Isso acarreta uma questão que irei debater no final desse artigo.

2 – Sistema de Perícias Reformulado

Esqueça aquela distribuição “conta-gotas” do D20 tradicional. Agora, você indica se é treinado ou não em uma perícia e recebe +5 no teste, ajustado pelo atributo referente e adiciona metade do nível do personagem. Confesso que ainda opera com uma matemática inflacionada, mas é elegante.

3 – Talent Trees

Além das habilidades de classe e dos Feats (que a Devir trouxe erroneamente como Talentos), há agora, um terceiro recurso para os personagens: os Talents, que deixam o personagem altamente customizável. Ou seja, você pode ter dois Soldiers ou dois Nobles no grupo e eles terem uma construção bem diferente um do outro. Além disso, as Talent Trees, permitiram enxugar as classes. Logo, no D20, a gente tinha o jedi Consular e o Jedi Guardian. Agora, temos apenas uma classe Jedi, entretanto, ela conta com 3 talent trees distintas para selecionar. Novamente, uma boa sacada na época.

4 – Pontos de Força

Os RPGs de Star Wars, desde o Star Wars D6, da West End Games, possuem uma mecânica que permite uma cena altamente cinematográfica, digna da franquia. No Saga, temos o Destino (que vai te ajudar em cenas dramáticas que cumpram o caminho escolhido), e os Force Points, que permitem utilizar os Poderes da Força (que exigem esse custo, claro), e que podem ser usados para adicionar 1d6 a um teste no D20 (esse dado aumenta com o passar dos níveis), também servem para recuperar um Poder da Força gasto previamente. Possibilita diminuir a tentação pelo Lado Negro e por fim, Evitar a Morte, ou seja, caso seu personagem fosse morrer nessa cena, ele gastaria um Force Point e ao invés disso, cairia inconsciente com 0 pontos de vida. Além disso, o SAGA traz a skill Use the Force, ou seja, quanto maior o resultado nesse teste, mais poderosa será a execução de um Force Power.  

5 – Suplementos incríveis.

Falamos do framework do Core Book, mas Star Wars Saga volta a brilhar com a linha de suplementos. Regras para combates táticos mais detalhados, regras para promoção militar, suplementos específicos de cada Era Galáctica. O Mestre deve selecionar o que ele vai usar, o que vai vetar, pois de fato, são inúmeras opções. Como todo sistema D20 existe o risco de sobrecarregar, caso mal gerenciado pelo grupo.

É possível jogar sem miniaturas, mas
o Saga claramente recomenda.

Percebe-se portanto, que nem tudo é um “mar de rosas” no Star Wars Saga. Ainda é um jogo matematicamente pesado. Somar bônus oriundos de feat, de talent, de skill pode ser uma dor de cabeça para fãs de jogos mais dinâmicos. Outro ponto complicado, bem conhecido pelos fãs do jogo é a chance de acertar nos níveis altos. Vamos pegar como exemplo, um Clone Trooper com +5 de Ranged Attack. Para ele acertar a Princesa Amidala (nível 10 e 24 de Reflexo, como indicado na página 263 do Corebook), teria que tirar no D20, 19 ou 20 para acertar. Isso acarreta em alguns combates bem sacais com chances de acerto beirando o impossível e momentos como “vou atacar. Errei”, “ele te ataca. Errou”.  Geralmente os grupos de jogo elaboravam uma regra caseira para deixar isso mais funcional. Vi alguns blogs gringos que para arrumar isso, aumentavam o Reflexo em 1 ponto a cada 3 níveis, ao invés de a cada nível, para ficar “mais ou menos” equivalente ao avanço do ataque dos PCs e NPCs. Outro problema que apontam geralmente é sobre o feat Skill Focus, que lhe confere +5 em uma perícia. Os combeiros de plantão, já botavam ele em Use the Force, o que torna o Jedi extremamente forte logo no início do jogo. Para contornar esse problema, há duas soluções caseiras. Permitir que apenas personagens de nível 5 possam pegar OU Skill Focus concede (seja qual for a perícia selecionada) um bônus de 1/nível (max. 5). Esse último, costumo acatar nas minhas campanhas e funciona bem. Como está no livro (RAW, rule as written), funciona numa one-shot ou numa campanha onde realmente você quer deixar os jedi bem discrepantes em relação às outras classes. Ou seja, super-heróis no meio de heróis.

PONTOS FRACOS:

- Esgotado: material do SAGA é bastante raro, e os preços praticados na Amazon e Ebay são verdadeiramente obscenos. Esteja avisado!

- Em inglês: essa versão nunca recebeu versão oficial traduzida.

- Compre calculadoras: o SAGA é um passo além do D20, mas não tão largo! Logo, usa-se muita matemática. “Putz, esqueci de somar o +1 situacional desse Feat/Talent!” são frases comuns de se ouvir na mesa de jogo. Nos níveis elevados, a matemática simplesmente desmorona diante de seus olhos, levando a combates cansativos. Fiz um POST AQUI com uma tentativa de resolver isso da maneia mais elegante possível.

- Arte: apesar de gostar muito do design e layout dos livros do SAGA, dentro do material (tanto o básico quanto suplementos), você encontrará imagens do filme e desenhos. Alguns Bons, outros OK e outros lastimáveis. Juro, tem fanfics melhores ilustradas por aí.

PONTOS FORTES:

- Customização: esse era o grande apelo da Era D20 e aqui, continua sendo verdadeiro. Se o seu grupo tem 5 Soldiers ou 5 Jedi (digamos), com os devidos suplementos e builds, é possível criar um totalmente diferente do outro. Viu algum personagem na série Clone Wars, Rebels ou nos novos filmes que quer se inspirar? Com a vastidão de Feats e Talent Trees encontrados no SAGA, é bem possível que você consiga emulá-los sem maiores dificuldades.  

- Os suplementos de ERA: Legacy Era, Clone Wars, Rebellion Era e Knights of the Old Republic são os principais suplementos de período histórico das sagas. Com meta-plots tão ricos, é totalmente possível pegar um desses suplementos e usar como base contextual para usar até com outros sistemas, seja o D6 da WEG, seja o da Fantasy Flight Games.

- Poderes da Força como recurso: os poderes da Força são estruturados como poderes por uso único. A melhor forma de controlar isso é preenchendo um cartão com CADA um dos poderes do leque selecionado pelo jogador, e ir administrando ao longo da sessão. Gastou um deles, entregue para o Mestre de Jogo. Simples assim. Alguns Feats/Talents permitem até recuperar algum poder utilizado previamente, mas o normal é recuperar todos depois de um Descanso. Sou fã desse tipo de gerenciamento e acho melhor que “gastar mana” como era no Star Wars D20 Revisado.

Na minha opinião, o SAGA é uma evolução clara do D20, mas ainda não é tão cinematográfico como o Star Wars D6 e nem tão dinâmico e divertido como a versão atual da Fantasy Flight Games, mas obviamente é questão de gosto. A próxima resenha do blog será sobre os três livros básicos da FFG. 

E vocês? Jogaram muito o SAGA EDITION?

Abraço a todos!